
foto tirada da net
Se recordar é viver
Como toda a gente diz
Recorda para viver
E vive para ser feliz
**************************Já alguém perguntou: Então?? Não há mais histórias ?
Cá vai outra:
O meu avô não me queria ver tanto tempo ausente. Então, metia-se na camioneta e vinha buscar-me a Lisboa.(Naquele tempo ainda poucos carros havia)
Dizia para a minha mãe, quando cá chegava: “ A minha menina não é nenhum passarito para estar aqui fechado nesta gaiola”. E lá ia eu, feliz da vida, empoleirada á janela, para um tempo de grande liberdade, que às vezes chegava aos dois meses.
Quem tem acompanhado histórias anteriores, sabe que por lá havia uma catrefada de primos com quem podia brincar na rua, trepar a tudo quanto era árvore e brincar com os animais lá na quinta. E havia lá: cavalos, ovelhas, cabras, porcos , 1 boi , galinhas e coelhos com fartura.
Eu, à solta por lá, esmerava-me nas patifarias.
Mas também era muito protectora para os mais novos. Andávamos sempre de mãos dadas, estilo carreiro de formigas…
Lembro-me bem do que vou contar:
Podíamos andar à solta porque a casa ficava na parte alta da aldeia e raramente passava alguém.
Depois do almoço , a canalha miúda ía toda dormir. Seguia-se o lanche ,dado pela Hermínia ( uma jovem de vinte e poucos anos, que tinha uma paciência de anjo para nos aturar ), e que era a empregada interna (antigamente chamava-se criada) .
Depois do lanche, lá íamos nós, sózinhos, de mãos dadas, ter com os avós à quinta, que ficava a uns 300 metros da habitação.
Ainda faltava muito para lá chegar e já o Turco ladrava (um Serra da Estrela que me odiava).
Parávamos ao portão, enorme, de ferro preto e esperávamos que nos viessem buscar. Chamávamos pela avó.
Muitas vezes, ela e o pessoal andavam ao fundo da quinta e nem sempre nos ouviam chamar.
A Lurditas, a mais velha, já não dormia a sesta e por ter um medo horroroso do cão, ia sempre com a avó.Por isso já por lá andava a chafurdar na água da rega.
Eu, do lado de fora do muro,( e como era a mais velha daquele grupo), tinha de resolver o caso.
Pelo portão não entrávamos, porque o Turco,( embora preso com uma grossa corrente de ferro), chegava lá.
Eu abria o portão e fugia para trás. O cão ladrava ,galopava na nossa direcção e empertigava-se todo.
Os outros esperavam do lado de fora, na estrada.
De seguida ,eu ia até à esquina do muro.Era por lá que podia entrar, pois havia uma falha no muro.
Já lá dentro tinha de superar vários obstáculos.
Primeiro : Tinha de atravessar 3 socalcos de terra repletos de colmeias cheias de abelhas.
Não podia correr, ….senão elas caíam-me todas em cima fazendo de mim uma colmeia cheia de abelhas.
De seguida,( e depois de, -tal era a pressa- pisar tudo quanto era cultura) , chegava à zona dos tanques.
O Cavalo, que andava a tirar água à volta do poço, até andava mais depressa quando me via.
Tinha –me um medo horroroso, pois eu não fazia nada senão a correr. E ele assustava-se.
Então, eu passava pelo tanque mais pequeno,( o de lavar a roupa) e punha água no regador.
Devagarinho, e muito encostadinha à parte interior do muro, avançava até perto do portão.
O Turco olhava-me assustadoramente e ladrava.
Eu apontava-lhe o regador e atirava água.
O animal Fugia.
Um dos primos aproveitava e….passava a correr.
O cão corria atrás dele.
Um já lá estava dentro…
E ia sentar-se no canteiro das flores.
Era aí que esperava pelos outros.
A cena repetia-se até passar o último.
E o animal não deixava passar mais que um de cada vez….
Depois disto:
O portão ficava então com a metade aberta. Também não havia problema. Naquela quinta ninguém entrava com aquele cão!
E se era tempo das uvas, não íamos ter com a avó sem antes eu trepar por uma escada e
apanhar uvas morangueiras para todos comermos. Ficávamos todos lambuzados mas felizes!
Quando chegava à altura da vindima, já não havia uvas, porque, onde eu chegasse, a vindima já tinha sido feita.
Ninguém me ralhava por isso. Só me ralhavam quando eu caía e me magoava.
Ao recordar este episódio, penso muita vez que, se o cão algum dia tivesse partido a corrente, a esta hora nenhum de nós estaria certamente vivo.
E,com a raiva que ele me tinha, seria eu, talvez, a primeira a quem ele se atirava.
BOM FIM DE SEMANA
TURBOLENTA