quarta-feira, junho 13, 2007

FERNANDO PESSOA


Fernando António Nogueira Pessoa
(1888-1935)

"Ironia suprema do saber: só conheço isso que não entendo, só entendo o que entender não posso!"




Uma Ode de Ricardo Reis ( um dos vários pseudónimos utilizados por Fernando Pessoa)


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Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio

Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.

12 comentários:

peace_love disse...

Ui, parece que foi ontem que li esse poema numa aula de Português! Mas o meu preferido é este:
Para ser grande,
Sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a
Lua toda Brilha, porque alta vive.

Ricardo Reis

Anónimo disse...

Qu lindo poema, ja o conhecia, de ler na escola. Mas adoro Fernando Pessoa e sempre bom recordar.
Jokitas

Ana Bastos disse...

muito bonito o poema!!!

bjinhus

Ana Bastos disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Ana Bastos disse...

n sei apagar o comentário acima, k era p outra pessoa, ehehehe ... ai a minha cabeça!!!

bjinhu

Osc@r Luiz disse...

Turbolenta, querida,

Quanta injustiça...
Você sempre tão carinhosa comigo e eu há tanto tempo sem te visitar.
Sem saborear as suas delícias, que agora vem acompanhadas de poesia da mais pura qualidade, que além do organismo, alimenta a alma!
Um beijo, minha querida.
Se eu me esquecer de você de novo, por favor puxe minha orelha.
Sou um vil mortal.

turbolenta disse...

Resposta à Ana Bastos:
Já apaguei.
beijinhos

marmol disse...

buen fin de semana!!!!
besos

Helena disse...

Bom dia amiga Tur-Ó-lenta. Espero que estejas bem. Actualizei a leitura do teu blogue e fiquei cheia de curiosidade em experimentar o pão de soja, que tem um óptimo aspecto.
Adoro FP, um dos meus poetas preferidos. Tenho um especial carinho pelo heterónimo Bernardo Soares e pelo "Livro do desassossego", que releio sempre com prazer. Bom fds, boa RA, e beijos, para ti de mim.

Juanita disse...

olá

ando à uns dias desaparecida...mas já estive a actualizar a leitura!! eh pá essa do pão de soja...não conhecia, mas se soubesse, na 4ª feira qd aindei aí pelo "deserto" tinha ido á procura!! fica para a proxima!!
qt a poesia...gosto muito! e adorei o poema!!

beijoca e um optimo fds

minds disse...

Grande homem, Fernando Pessoa...

bjs e bom fim de semana

P disse...

Um dos meus favoritos de Ricardo Reis, sem dúvida, embora esta coisa das escolhas, dos melhores, dos favoritos, valha pouco. Gostei de passar por aqui.