Fernando António Nogueira Pessoa
(1888-1935)
"Ironia suprema do saber: só conheço isso que não entendo, só entendo o que entender não posso!"
Uma Ode de Ricardo Reis ( um dos vários pseudónimos utilizados por Fernando Pessoa)
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Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio
Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio. Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas. (Enlacemos as mãos.) Depois pensemos, crianças adultas, que a vida Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa, Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado, Mais longe que os deuses. Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos. Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio. Mais vale saber passar silenciosamente E sem desassossegos grandes. Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz, Nem invejas que dão movimento demais aos olhos, Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria, E sempre iria ter ao mar. Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos, Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias, Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro Ouvindo correr o rio e vendo-o. Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as No colo, e que o seu perfume suavize o momento - Este momento em que sossegadamente não cremos em nada, Pagãos inocentes da decadência. Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova, Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos Nem fomos mais do que crianças. E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio, Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti. Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio, Pagã triste e com flores no regaço. |
12 comentários:
Ui, parece que foi ontem que li esse poema numa aula de Português! Mas o meu preferido é este:
Para ser grande,
Sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a
Lua toda Brilha, porque alta vive.
Ricardo Reis
Qu lindo poema, ja o conhecia, de ler na escola. Mas adoro Fernando Pessoa e sempre bom recordar.
Jokitas
muito bonito o poema!!!
bjinhus
n sei apagar o comentário acima, k era p outra pessoa, ehehehe ... ai a minha cabeça!!!
bjinhu
Turbolenta, querida,
Quanta injustiça...
Você sempre tão carinhosa comigo e eu há tanto tempo sem te visitar.
Sem saborear as suas delícias, que agora vem acompanhadas de poesia da mais pura qualidade, que além do organismo, alimenta a alma!
Um beijo, minha querida.
Se eu me esquecer de você de novo, por favor puxe minha orelha.
Sou um vil mortal.
Resposta à Ana Bastos:
Já apaguei.
beijinhos
buen fin de semana!!!!
besos
Bom dia amiga Tur-Ó-lenta. Espero que estejas bem. Actualizei a leitura do teu blogue e fiquei cheia de curiosidade em experimentar o pão de soja, que tem um óptimo aspecto.
Adoro FP, um dos meus poetas preferidos. Tenho um especial carinho pelo heterónimo Bernardo Soares e pelo "Livro do desassossego", que releio sempre com prazer. Bom fds, boa RA, e beijos, para ti de mim.
olá
ando à uns dias desaparecida...mas já estive a actualizar a leitura!! eh pá essa do pão de soja...não conhecia, mas se soubesse, na 4ª feira qd aindei aí pelo "deserto" tinha ido á procura!! fica para a proxima!!
qt a poesia...gosto muito! e adorei o poema!!
beijoca e um optimo fds
Grande homem, Fernando Pessoa...
bjs e bom fim de semana
Um dos meus favoritos de Ricardo Reis, sem dúvida, embora esta coisa das escolhas, dos melhores, dos favoritos, valha pouco. Gostei de passar por aqui.
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