quinta-feira, julho 23, 2009

AMORGOS


A escrita de hoje parece um testamento.

Mas viagem sem peripécias não é viagem.

Outras aconteceram, também dignas de registo, mas não vos quero incomodar com elas.

Fazem parte da nossa vivência.São coisas nossas. Se contarmos tudo, se mostrarmos as melhores fotos, nada de mais íntimo ficou para nós.

E esta viagem teve mesmo momentos muito nossos, que nos marcaram.

São coisas que nunca esqueceremos.

Foi a primeira viagem de 15 dias que fiz só com a minha filha.

Ela tem pavor a Agências de viagens, a excursões estilo "carreiro de formigas",em que todos vão para o mesmo sítio.

Ao sair de Portugal poucas certezas havia. Apenas os bilhetes de ida e volta de avião , a marcação da estadia para a primeira noite em Piraeus e a vontade de partir para uma ilha, bem cedo, na manhã seguinte.O bilhete seria comprado lá e para onde houvesse lugar.

Como a malinha andou perdida um dia, os planos foram alterados.

Tudo surgiu por acaso.

E o acaso foi bem bom!

Talvez uma experiência a repetir.

Um desejo que não encontra apoio no meu marido.

Por isso...talvez haja outra assim, comigo e com ela.

AMORGOS

Foi a 2ª ilha onde fomos. Uma pequena ilha das Cyclades e a mais ocidental delas todas.

Foi escolha da minha filha pois tinha uma grande vontade de visitar um mosteiro e o de Khozoviotissa parecia o ideal.

Por outro lado queríamos uma ilha sossegada pois as preocupações e o stress , tinham ficado em Lisboa.

Este mosteiro foi fundado no século XI . Fica na costa Este, relativamente perto da capital Khora e está cravado numa encosta rochosa de penhascos com cerca de 350 m de altura.

(podem ver o mosteiro a meio da encosta)
E como Khora foi o nosso poiso nesta ilha, lá agendámos a visita.

Como nos tinham dito que a melhor hora era à tardinha e que a subida custava... mas., nada melhor que estudar o mapa. Como ficava do outro lado do monte, se calhar da parte da tarde o sol não batia lá tanto. Realmente a subida era mais fácil, mas as fotos eram piores.

Era suposto abrir às 8 da manhã.

Então, estas cabecinhas pensadoiras, entenderam por bem munirem-se de um avantajado pequeno almoço que tomariam antes da abertura do mesmo e já à sua porta.

Na véspera , à noitinha, já tínhamos falado com o taxista lá da zona e pedido que nos fosse buscar às 7.30 H.

Ele quis confirmar a hora. Disse que estava bem!

(No outro dia percebemos porquê)

E no dia seguinte, ao chegarmos ao largo principal, lá estava ele a sair do café, com um riso de orelha a orelha.


Por entre uma estrada estreita e sinuosa, de curvas e contracurvas, sempre a descer, eis-nos chegadas à base do penhasco. Custo: 5 €.

Havia lá 4 carros. Pensámos: não fomos as primeiras!

Realmente já lá havia 2 miúdos sentados num banco junto ao portão de ferro que se encontrava fechado. Os carros deviam ser dos padres que estão no convento. (3 padres que podem sair e um monge em reclusão), pois visitantes eramos só nós.

Ora bolas! O melhor mesmo é tomarmos já o pequeno almoço .

É que afinal o mosteiro só abria às 9 e o malandro do motorista bem nos podia ter avisado de véspera.

Havia lá um banco corrido e toca a sentar e comer.

Bem precisávamos.... e de que maneira....

Um pouco depois das 8 lá veio um jovem mais velho que os outros. Abriu a porta. Começamos a subir.

Vista cá de baixo, a distância parece pequena e fácil a subida.

Mas o pior é que o caminho é em degraus(embora pouco acentuados) e estilo serpentina. Tanto sobe como vira para o lado, ficando ao mesmo nível do socalco anterior e...na volta seguinte acontece o mesmo. Resumindo: sobe, sobe e quase não passa do mesmo sítio.

Isto, aliado a uma forte ventania que soprava em sentido contrário à nossa subida, ainda nos dificultava mais o percurso.

Finalmente lá chegámos.

Olhando para baixo, o caminho era curto. Junto à falésia a água azul turquesa, calma, brilhante e transparente, com uma ilhota ali bem perto, convidava-nos a um mergulho.


Também lá iríamos...

O Mosteiro visto assim de baixo é grandioso. Uma mancha branca, grande, imponente a destoar da rocha castanha onde estava incrustrado.

Ao vermos tantas janelas ainda julgámos que a visita seria demorada e que o nosso cansaço seria bem recompensado.

Uma entrada íngreme, numa escadaria cravada entre 2 rochas que dava acesso ao interior do mesmo.


Era como que uma sala de recepção aos convidados. Eles estavam à vontade, sem ninguém por perto e podendo admirar alguns aspectos religiosos conventuais. Os ícones, os santos da sua devoção, um mobiliário austero. Esta sala dava acesso directo a outra, bem mais explendorosa.

E se na anterior, e porque não havia ninguém por perto, ainda tirei umas fotos à minha filha, nesta última nem pensar, pois havia um padre sentado num sítio estratégico a controlar o visitante.

A eles era servido: um copinho de uma bebida chamada Raki e uns doces Loukoumi.

Havia que fazer o percurso em sentido inverso. Para baixo todos os santos ajudam!
Já na base do mosteiro e junto à porta da entrada onde havíamos esperado, esperava-nos uma estrada íngreme.

Aí e olhando para a inclinada estrada só havia uma solução: subir a penantes. Carros nem vê-los e táxis ainda menos.

E a praia lá em baixo. ..E os planos para nos refrescarmos....Tão perto mas tão longe!

Mais à frente, finalmente a descida .

Vinha um carro a descer a serra.

Um gesto rápido da mão da minha filha e a boleia surgiu.

Uma Grega, descendente de Italianos, com uma criança pequena, num carro alugado.

Vai de ajudar a senhora na descida para a praia . A nosso cargo ficaram os sacos do l

anche e a tralha da criança: barco, pá, balde, etc...etc...

Á medida que a grande escadaria ia chegando ao fim éramos agradavelmente surpreendidas.

Primeiro uma igrejinha branquinha

e depois, por fim, uma pequena enseada.
A areia ... eram as pequeninas pedras, a água calma, transparente e morninha.

Nadando um bocado, tínhamos uma visão mais ampla do mosteiro que havíamos visitado. E que vista! soberba!

Era Ágia Anna

(Em Ágia Anna os banhistas pescam polvo)
(E mesmo ao lado, este belo recanto).

O calor apertava!

O banho já cá cantava e havia que regressar à cidade.

Percurso inverso...até ao parque de estacionamento.

Horário da camioneta: dali a meia hora.

Abancamos numa pequenita esplanada a beber uma água fresquinha enquanto saboreavamos uns gelados.

........e pensavamos, encaloradas:

"Se apanhassemos boleia para cima..."

" Bem, bem....isso era sorte a mais"...

"Olha ali uma senhora sózinha...."

E assim apanhamos a 2ª boleia do dia.

Depois, tivemos a certeza que é muito fácil apanhar boleia nas Ilhas.

Porque: não só ali mas...

E, contra tudo o que nunca pensamos fazer, nessa mesma tarde um casal de Franceses tornou-se nosso motorista, num outro ponto da ilha, num percurso descendente de cerca de 1.5 km.

No centro de Khora apanhamos a camioneta para Egiáli.

(Esta está considerada como a melhor praia da ilha).

Todo o percurso é de grande beleza.

O motorista, um rapaz novo, de calções, óculos escuros era um verdadeiro artista. Não só da condução (pois nem todos são capazes de conduzir naquelas estradas, mas também cheio de vida, imaginação e arte).

Enquanto conduzia, ou comia gelado, ou atendia o telemóvel, ou...cantava ao som da música .

Chegado a Egiáli achou que devesse ter mais clientes para subir à outra localidade. Saiu da camioneta a cantar e a dançar. Os turistas riam-se, claro está.Era a boa disposição personificada.

( A simpática figura do motorista e os ornamentos da sua camioneta:artigos religiosos, bonequitos e nem sei mais o quê).

Só posso dizer que Amorgos é uma ilha tremendamente repousante.

As praias são boas. As pessoas muito simpáticas.

Ao fim de 2 dias naquela zona, os residentes já nos conheciam, já nos falavam e já nos convidavam a uns momentos de descanso junto a eles.

Durante o Inverno esta ilha tem poucos habitantes. Todos se conhecem. É como se fossem uma grande família. Talvez como nas zonas do interior do nosso país em que todos são primos e primas.


E, para finalizar esta longa "escrita" e para atestar o que referi, aqui vai um epílogo feliz.:

A nossa saída, EM GRANDE de Amorgos:

O ferry para Naxos saía às 7 horas de Katapola.

(Esta é a estrada de Katapola para Khora). O cais fica na 1ªenseada.


De Khora até ao porto são uns 5 Km.

A dona da residencial prontificou-se a levar-nos lá.

Ás 6.15h ía-nos buscar o irmão dela.

Tudo correu bem até ao momento em que, chegadas a Katapola, a minha filha (já depois do senhor ter arrancado com o carro encosta acima) se lembrou que tinha deixado a mala com a documentação , a máquina fotográfica, etc....em cima da cama.

Pânico!

A correr que nem uma doida, procurava um taxi. Não havia nenhum aquela hora.

Um senhor que havia saído de um carro, acompanhou-a ao café para telefonar para a residencial.

O dono do café fez a chamada e não cobrou dinheiro.

Disse que esperassemos que o sr...não sei quantos já nos trazia a mala da minha filha.

Estava na hora do barco partir e nem mala nem o senhor apareciam...

Passaram 5...7 minutos e lá vem o carro a uma velocidade louca.

O homem vinha ofegante!

Entrega feita e corremos para o barco. Entrámos.

Arrancou !

Tinha esperado por nós!

É que, o tal senhor a quem a minha filha havia primeiro inquirido, era tripulante do barco.Conhecia os donos da residencial e tinha a certeza que, mais minuto menos minuto, a carteira nos seria entregue.

Por isso não arrancou sem nós, mesmo tendo um atraso de quase 10m.

Vantagem de todos se conhecerem, todos se estimarem.

Havia de ser em Santorini, por exemplo....

Compravamos outro bilhete e era se queríamos ir,.... no dia seguinte, pois então!

6 comentários:

anitA disse...

estás a contar tudo..hm...ou quase tudo ** foi o panico por akaso
se fosse hoje, sabendo o que sei de naxos, tinha era ficado em amorgos mais um dia e ido depois para koufonissia**mas pronto..fica para a próxima

Gio disse...

Li tudinho desde lá de baixo, do inicio das férias. Como sabes, eu era incapaz de ir assim à aventura, mas acho graça, gosto de ler e acredito que assim se vêm coisas que de outra forma nunca veriamos. Mas tirando uma vez que fui com os meus pais "à aventura" - e a unica aventura era não levar hoteis marcados porque os percursos iam já todos direitinhos, sou incapaz de fazer assim qualquer viagem.... manias !!!!!

Gostei muito das paisagens de Milos. Mas gostei de tudo o que vi...

ana disse...

as fotos não fazem de juiz à beleza :P (tu sabes de onde...).
Belo set e documentário.. Eu não conseguia fazer melhor..

ana disse...

o homem tem medo do incerto e como tem a vida programada diariamente, não consegue ir de férias sem ter tudo programado.
é por isso..
mas não tem mal..cada um é como é.
**

Gata Verde disse...

Como compreendo a tua filha!
Nada como sermos donos do nosso tempo e espaço! Nada como explorar cada recanto ao nosso gosto!
E essas aventuras dão nisto...uma viagem fantástica com muitas histórias para contar!!
Se formos em "carneirada" como eu digo, não vemos NADA!!

beijocas

Mamã Martinho disse...

Grande aventura!
Fiquei com vontade de conhecer esta ilha, pois gosto muito do estilo "familiar".

Bjs

Mónica